Em primeiro lugar, não poderei jamais deixar de mencionar o Grande Iniciador das Gravações da
Música Caipira: Cornélio Pires
(Tietê-SP -
13/07/1884 - 17/02/1958), pois foi graças a
ele que chegaram ao Disco as primeiras gravações dos "Genuínos Caipiras" a partir de 1929!
Podemos dizer que Cornélio Pires foi o "Primeiro Produtor Independente de Discos" no Brasil após a corajosa iniciativa de 1929.
Não se pode jamais falar sobre Música Caipira Raiz sem mencionar Cornélio Pires e o caminho por ele deixado e que por outros também foi trilhado.
Sabe-se, por exemplo, que seu sobrinho
Ariowaldo Pires
(
Tietê-SP
31/8/1907 - São Paulo-SP 10/11/1979), que mais tarde adotou o apelido de Capitão Furtado, em seu Programa de Rádio "Arraial da Curva Torta" na Rádio Difusora, conheceu os Irmãos Peres (João Salvador Pérez - São Manuel-SP - 1917-1994 e José Pérez – Botucatu-SP - 1920) que ganharam um concurso de interpretação em primeiro lugar e, como prêmio, a gravação de um disco em 1944, com a música "Em vez de me agradecê” (Capitão Furtado - Jaime Martins - Aimoré). Nessa época foi o sobrinho de Cornélio Pires, o Capitão Furtado que sugeriu que a nova dupla iniciante adotasse um novo nome que seria "menos espanhol" e "Mais Brasileiro e original": iniciava-se então a brilhante carreira artística de Tonico e Tinoco que todos nós conhecemos e apreciamos!
Cornélio Pires teve em sua própria história muito da vida rústica da "civilização cabocla". O nascimento e o batismo desse Paulista de Tietê já foram por si só “dois causos” a serem contados:
De acordo com Paulo Roberto Moura Castro, Cornélio Pires sempre esteve “na frente do seu tempo” em tudo que fez pelo Universo Caipira: “nasceu antes do tempo”, pois sua mãe, a “Tia Nicota” (Ana Joaquina de Campos Pinto), grávida de Cornélio, escorregou numa casca de laranja, caiu sentada, passou a sentir fortes dores, acabou tendo que ir para a cama por volta das 11 horas. Quando o marido, o “Tio Raimundo” (Raimundo Pires de Campos) chegou da roça, teve que cortar o cordão umbilical do recém nascido.
Como se pode ver, nascido antes do tempo e ainda “com o nome trocado”: E o próprio Cornélio dizia:
- Meu nome tem a sua história: Uma de minhas tias maternas andava de namoro com um parente chamado Rogério Daunt, e foi ela que me levou a Pia Batismal. Ao me batizar, Padre Gaudêncio de Campos, que era nosso parente, e nesta época já bem velho e muito surdo, perguntou: "Como se chama o inocente?". Ao que minha Tia respondeu: "Rogério". E o Padre: "Eu te batizo, Cornélio...".
A perpetuação da Memória de Cornélio Pires
se deve em grande parte à "Semana Cornélio Pires" que se realiza desde 1959 na segunda quinzena de Agosto
em Tietê-SP, sua Cidade Natal, e também ao Museu Cornélio Pires, o qual tive o prazer de visitar nos dias 13 e 14/03/2003 - aliás, diga-se de passagem, "não resisti à tentação" de ir conhecer Tietê-SP e o respectivo Museu, após ter lido sobre o
mesmo no site de
Paulo Roberto Moura Castro, site esse que convido o leitor fazer uma visita, pois contém informações muito importantes sobre Cornélio Pires e também sobre Tonico e Tinoco!
Cornélio Pires herdou de seu pai, o Sr. Raimundo, o gosto e também a habilidade
para "contar os causos". Foi Escritor, compositor,
conferencista, jornalista, "contador de causos", folclorista e poeta, dedicou grande parte de sua vida à compilação e divulgação da cultura sertaneja, através de livros, discos, filmes,
conferências, artigos de jornais e composições musicais ("Moda do Peão" e "Jorginho do Sertão" são dois exemplos do excelente trabalho musical de Cornélio).
Já existia evidentemente esta
Cultura, no entanto, foi Cornélio Pires que, com o seu inestimável trabalho, possibilitou
que a Música Caipira fosse divulgada: inicialmente em discos, com selo próprio:
os discos de sua autoria gravados em 1929 com o famoso selo vermelho da Colúmbia (ver à direita
uma foto do Disco Colúmbia Nº. 20031 - "A INCRUZIADA" - Canção de
Angelino de Oliveira
- com Maracajá e Os Bandeirantes - Acervo do Museu Cornélio Pires em Tietê-SP); e, posteriormente
através das rádios AM (Ondas Médias - Amplitude Modulada) de São Paulo.
Cornélio Pires também morou nas cidades de Santos, Botucatu e Piracicaba e trabalhou também como
tipógrafo, repórter e Professor de Educação Física.
Quero aqui "abrir um parêntese"
para falar um pouquinho sobre o Museu Cornélio Pires em Tietê-SP, Museu este que nos permite
conhecer um pouquinho de cinco figuras ilustres da simpática
"Cidade Jardim", como é conhecida carinhosamente a antiga "Curuçá de Antanho", figuras estas que
fizeram a história de uma cidade, não só na Música, como também na Política e na própria História
desta tão simpática cidade.
O Museu homenageia (em Salas Específicas) Benedicto Pires de Almeida (o Zico Pires -
1903-1997), de fundamental importância histórica para a cidade, além de homenagear na Música
(parece que a Cidade de Tietê quis ser representada em quase todos os Estilos Musicais, "sem
preconceitos") os compositores que também são Filhos de Tietê: Fred Jorge (Fued Jorge Jabur -
1924-1994), que foi compositor da "Jovem Guarda", autor de diversas músicas populares gravadas
inclusive por Roberto Carlos (como por exemplo "Você Já Me Esqueceu" de 1972); Marcelo Tupinambá
(1889-1953), Engenheiro Civil que sentiu na Música a sua Verdadeira Vocação; Mozart Camargo Guarnieri
(1907-1993), compositor Erudito que, a exemplo de Heitor Villa-Lobos, contribuiu para a existência de
uma "Música Erudita Brasileira", empregando inclusive ritmos e sons de inspiração folclórica (já
tive também o prazer de assistir a alguns Concertos regidos pelo próprio Camargo Guarnieri, à frente
da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo e também da Orquestra Sinfônica da USP). Além desses
quatro Grandes Nomes, o Museu homenageia Cornélio Pires!!
Em tempo: também é de Tietê o músico Itamar Assumpção que nasceu no dia 13/09/1949 e faleceu
aos 53 anos de idade em São Paulo, no dia 12/06/2003, vítima de câncer no intestino.
Tive também o prazer de
conhecer o Sr. Benedito Pedro Silvestrim, o popular "Fuzilo", coordenador do Patrimônio do
Museu, e que, demonstrando que gosta do que faz, me mostrou escritos, livros, discos e
importantíssimos documentos sobre Cornélio Pires! Na foto ao lado, estou ao lado do Sr. Fuzilo, na
Sala dedicada à Obra de Cornélio Pires no Museu de Tietê.
Infelizmente, o Fuzilo "partiu para o Andar de Cima" no dia 04/09/2007, deixando um enorme "vazio" na Cultura Caipira...
Clique aqui,
veja e ouça uma Entrevista com o saudoso Benedito Pedro Silvestrim, o popular "Fuzilo", falando sobre Cornélio Pires, na GloboNews, em programa
apresentado pelo José Hamílton Ribeiro. Esse preciosíssimo vídeo musical foi "garimpado" pelo Pesquisador
Fábio Porangaba
e pertence ao excelente Site
Os Reis Do Cururu,
que foi por ele idealizado e se preocupa com a Preservação desse maravilhoso Desafio Cantado, praticado na região do Médio Tietê no
Estado de São Paulo. O Apreciador não pode deixar de conhecer esse Sítio!
Clique aqui,
veja e ouça uma preciosidade disponibilizada, inicialmente no Facebook e, posteriormente no YouTube, pelo "Cumpadre"
Dr. Alberto Marques,
que também conheceu o Fuzilo!!! Trata-se de um trecho do Programa gravado em Tietê-SP "A Cidade Faz O Show" de 13/11/1988 pela
TV Cultura
de São Paulo-SP, apresentado pelo inesquecível Randal Juliano!!! Benedito Pedro Silvestrin, o popular Fuzilo, também de saudosa memória, é entrevistado e fala sobre
Cornélio Pires. Também temos um depoimento da saudosa "Madrinha"
Inezita Barroso!!!
Parabéns, "Cumpadre"
Dr. Alberto Marques!!!
Mas, vamos voltar ao nosso Cornélio Pires (o popular Tibúrcio):
A "Turma Caipira de Cornélio Pires" (em sua primeira fase) era composta por Arlindo Santtana,
Sebastião Ortiz de Camargo (o Sebastiãozinho), Zico Dias, Ferrinho, Mariano da Silva (pai do famoso
acordeonista Caçulinha – conhecidíssimo na Rede Globo), Caçula (tio do acordeonista Caçulinha)
e Olegário José de Godoy (o Sorocabinha).
As Primeiras Gravações – Como Tudo Começou:
Em 1929 Cornélio Pires, num procedimento inédito até então, resolveu divulgar em disco músicas, anedotas, versos e outras manifestações caipiras e, para tanto, procurou a firma Byington & Company. O diretor da Colúmbia - representante local da Byington & Company - era o americano Wallace Downey e o proprietário da empresa era o Dr. Alberto Jackson Byington Jr. Que não se interessou nem um pouquinho pelo projeto pois “tinha certeza de que o mesmo não teria nenhuma lucratividade”.
- Gravar discos de anedotas e violeiros? Isso é “mais uma piada sua”! Não há mercado para isso, não interessa!
- E se eu gravar por conta própria"?
- Bem, nesse caso, você teria que comprar mil discos. Quero dinheiro à vista, nada de cheque e, se o pagamento não for feito hoje mesmo, nada feito". Lógico que Byington Jr. estava tentando descartar de vez tal possibilidade ou, em outras palavras, era proposta de quem não queria mesmo fechar negócio de jeito nenhum.
Cornélio Pires calculou então quanto custariam os mil discos e saiu à procura do amigo Castro na Rua 15 de Novembro, bem no centro da Paulicéia Desvairada, e lhe pediu o dinheiro emprestado. Retornou em seguida à sede da gravadora e, entrando na sala de Byington Jr., jogou sobre a mesa deste, um grande pacote embrulhado em jornal.
- O que é isso?
- Uai, dinheiro! Você não queria dinheiro?
Byington Jr. abriu o pacote, “assombrado”:
- Mas aqui tem muito dinheiro!
- É que, ao invés de mil discos, eu quero cinco mil!!
Meio aturdido, Byington Jr. tentou convencê-lo de que cinco mil era muito, era "uma loucura". Naquele tempo não se faziam prensagens iniciais em tais quantidades nem mesmo para artistas famosos! O número na época era "astronômico", por assim dizer...
Cornélio foi ainda mais além:
- "Cinco mil DE CADA, porque já no primeiro suplemento vou querer cinco discos diferentes e portanto são 25 mil discos".
Aqui abro um parêntese para citar um “engano”, muito comum entre quase todos os pesquisadores pois, no primeiro suplemento, saíram 6 discos diferentes. Em vez de 25 mil, foram lançados 30 mil discos, em Maio de 1929, segundo fontes concretas, prestadas pelo criterioso pesquisador o professor Nirez. A confusão se faz e é evidente que se faça, porque em Outubro de 1929, no segundo suplemento, foi que Cornélio lançou 5 discos, com também cinco mil de cada, totalizando dessa forma, os 25 mil discos.
E foi assim que Cornélio Pires pagou a prensagem dos discos (com dinhero emprestado, conforme já foi mencionado) e lançou a Série Caipira Cornélio Pires, com o número especial 20.000, e o famoso “selo vermelho”, também especial. Na turma, por sinal, Mariano e Caçula, gravavam pela primeira vez o gênero moda-de-viola, com a música “Jorginho do Sertão” (Cornélio Pires).
Cornélio e Bynton Jr. estabeleceram ainda que os 30 mil discos, da primeira prensagem, teriam uma série especial, a "Série Cornélio Pires" partindo do número 20.000, com o selo vermelho, custariam 2000 Réis a mais do que os demais discos da gravadora de Byington Jr. e somente Cornélio poderia vendê-los.
Mesmo com o preço mais caro do que os demais discos no mercado, e sem intermediários de distribuição, a venda foi rápida e em pouco tempo todo o estoque se esgotou!
O selo independente durou até o início de 1931, totalizando cerca de 49 discos com 98 gravações.
Após essa corajosa iniciativa, as gravadoras, acabaram percebendo o “filão” que tinha sido aberto e passaram também a lançar os discos caipiras – sem precisar mais da coragem e do investimento monetário de Gente de Visão como foi Cornélio Pires. O “caminho das pedras” estava traçado.
Eis abaixo o início da Discografia de Cornélio Pires, ou seja, os primeiros “Bolachões 78 RPM” que registraram a simplicidade, a sensibilidade, a musicalidade, o toque de Viola e a astúcia do Homem do Campo:
Série Caipira"Cornélio Pires" - Gravadora Colúmbia:
MAIO DE 1929:
20.000 - ANEDOTAS NORTE AMERICANAS e ENTRE ITALIANO E ALEMÃO - Anedotas - Cornélio Pires.
20.001 - REBATIDAS DE CAIPIRAS e ASTÚCIA DE NEGRO VELHO - Anedotas - Cornélio Pires.
20.002 - SIMPLICIDADE e NUMA ESCOLA SERTANEJA - Anedotas - Cornélio Pires.
20.003 - COISAS DE CAIPIRA e BATISADO DO SAPINHO - Anedotas - Cornélio Pires.
20.004 - DESAFIO ENTRE CAIPIRAS e VERDADEIRO SAMBA PAULISTA - Turma Caipira Cornélio Pires.
20.006 - COMO CANTAM ALGUMAS AVES - Imitações - Arlindo Sant¢ Anna, e JORGINHO DO SERTÃO - Moda de Viola - Mariano & Caçula (da Turma Caipira Cornélio Pires).
20.007 - A FALA DOS NOSSOS BICHOS - Imitações - Arlindo Sant'Anna, e MODA DO PEÃO - Moda de Viola - Cornélio Pires e Turma Caipira Cornélio Pires.
20.008 - OS CARIOCAS E OS PORTUGUESES - Anedota - Cornélio Pires, e MECÊ DIZ QUE VAI CASÁ - Moda de Viola -(de Nitinho Pinto) - C/ Zico Dias e Sorocabinha (da Turma Caipira Cornélio Pires).
20.009 - TRISTE ABANDONADO - Moda de Viola, com Zico Dias e Sorocabinha, e NO MERCADO DOS CAIPIRAS - Anedota - Cornélio Pires.
20.010 - AGITAÇÃO POLÍTICA EM SÃO PAULO e CAVANDO VOTOS - Anedotas - Cornélio Pires.
Quero dar aqui um especial destaque ao Disco Nº. 20.007, pois a Música “Moda do Peão” de Cornélio Pires com “Cornélio Pires e a Turma de Cornélio Pires” foi (para nossa felicidade) regravada e lançada em LP pela Editora Abril em 1982 no Fascículo Especial “Música Sertaneja” da Coleção “Nova História da MPB”:
"Quando eu era criancinha / Tinha mar inclinação..."
A gravação se inicia com a declamação no característico sotaque de Cornélio Pires, com ligeiras explicações sobre a origem da Moda de Viola, antes do início da parte cantada, ou seja, a música propriamente dita. Acredita-se que os “Dois Genuínos Caipiras” sejam Caçula e Mariano (o rótulo vermelho do disco original não informa).
Eis a declamação de Cornélio Pires antes do início do canto:
"Moda do Peão": Moda de viola cantada por dois genuínos caipiras paulistas. Este é o canto popular do caipira paulista em que se percebe bem a tristeza do Índio escravizado, a melancolia profunda do Africano no cativeiro e a saudade enorme do Português saudoso da sua Pátria distante. Criado, formado nesse meio o nosso caipira, a sua música é sempre dolente, é sempre melancólica, é sempre terna. Eis a "Moda do Peão".
Clique aqui,
veja a letra e ouça essa gravação histórica de "Moda do Peão" com a Turma de Cornélio Pires.
Desconheço a existência dessa gravação em CD. Felizmente, graças à iniciativa de Inezita Barroso e Roberto Correa, no CD "Caipira de Fato" (RGE/1997 – o segundo de
dois excelentes trabalhos de Roberto Corrêa com Inezita Barroso, totalmente dedicado à música Brasileira e, no caso desse segundo CD, totalmente dedicado à
Música Caipira Raiz), podemos ouvir com tecnologia atual uma gravação bem recente de uma excelente interpretação da respectiva música (na faixa 11 do CD,
intitulada Oi Vida Minha (Moda de Peão) (Cornélio Pires)), na voz de Inezita Barroso e na Viola de Roberto Correa!
Esperamos, no entanto, que a Gravação Histórica supra-mencionada com a Turma de Cornélio Pires seja brevemente remasterizada e lançada em CD, assim como os 11
Primeiros Discos Caipiras Brasileiros listados acima, lançados em 1929.
Fica aqui a sugestão à Gravadora Warner/Continental e também
à Atração Fonográfica, às quais, para nossa alegria, têm lançado CD’s do maravilhoso repertório
Caipira Raiz. Espero que essa gravação esteja disponível em CD o mais breve possível. Não apenas a "Moda do Peão", porém, de um modo geral, os 11 primeiros discos
relatados acima com a voz do Cornélio Pires, a exemplo do que já foi feito no CD Som da Terra - Cornélio Pires.
Espero também que continue cada vez mais intensamente esse resgate do nosso folclore.
Obs.: O que relatei nos dois parágrafos acima se refere ao que existia disponível em 2003 quando comecei a elaborar esse Site, sendo que essa Págida Dedicada ao
Cornélio Pires foi a primeira que comecei a escrever. Para nossa Felicidade, foi lançado um Maravilhoso Álbum Quádruplo dedicado à Obra de Cornélio Pires, produzido
por Pedro Massa, o qual cito logo abaixo!!!
Por outro lado, para nossa felicidade, existe disponível também uma outra gravação de
"Moda do Peão" (Cornélio Pires), interpretada por
Tonico e Tinoco
a qual foi remasterizada em CD.
Quero destacar também a Gravação do Lado-B do Disco Nº. 20.006, da qual desconheço qualquer
reedição em LP ou CD, mas que, para nossa felicidade, foi regravada por diversos excelentes
intérpretes da Música Caipira Raiz, nos tempos atuais: trata-se de "Jorginho do Sertão" de
Cornélio Pires que foi realmente a Primeira Moda de Viola Gravada. No respectivo disco
78 RPM, ela é interpretada por Mariano e Caçula tendo também narração de Cornélio Pires
servindo como introdução.
Clique aqui,
veja a letra e ouça "Jorginho do Sertão" recolhida Folclore por Cornélio Pires, na
interpretação de Caçula e Mariano, da Turma Caipira de Cornélio Pires, na célebre gravação de
1929, fora de catálogo. O Lado B do "bolachão" 78 RPM Nº. 20.006.
Clique aqui,
veja a letra e ouça "Jorginho do Sertão" recolhida Folclore por Cornélio Pires, interpretada
por Itaporanga e Itararé, numa gravação em Vinil, também fora de catálogo.
Quero dar aqui também um outro destaque especial à Gravação do Lado-A do Disco Nº. 20.015,
a qual, para nossa felicidade, existe em CD (faixa 2 do CD "Raízes da Música Sertaneja -
Vários" lançado pela Warner Music): trata-se da Moda de Viola "Bonde Camarão" de Cornélio
Pires e Mariano da Silva, interpretada por Mariano e Caçula (o pai e o tio do conhecido
acordeonista Caçulinha, conforme já mencionado) e com a famosa narração de Cornélio Pires
servindo como introdução.
Eu, por outro lado, particularmente, acredito que possa existir um “certo receio” em se lançar CD’s de tais Gravações Históricas, devido aos inevitáveis “chiados” oriundos das limitações tecnológicas da época.
No entanto, o cliente que adquire um CD desse tipo, sabe que tais limitações existiam e, no caso, até “seria muito estranho se não ouvíssemos os chiados”, da mesma forma como ouvíamos os mesmos, escutando o “Bolachão 78 RPM” num Gramofone! Sem o chiado, parece que as gravações não são da época, não é mesmo? Parece que o chiado chega a “fazer parte da instrumentação”...
Quanto a esse tipo de Patrimônio Histórico, eu também não posso deixar de expressar a
minha enorme admiração pelo Sr. Leon Barg que, amando nossa música e sua história, criou em
1987 o
Selo Revivendo
e em 1993 (os LP’s ainda eram produzidos e comercializados no Brasil naquele ano), começou a
produzir em CDs o gênero “Velha Guarda”, recuperando Gravações Históricas até mesmo da década
de 20!! Tal patrimônio não pode ser perdido!! Vicente Celestino, Paraguassu, Moraes Neto,
Silvio Caldas, Orlando Silva, Nélson Gonçalves, Luiz Gonzaga, Cascatinha e Inhana, apenas
para citar um pouquinho dos grandes nomes que a Revivendo está preservando no formato CD,
além dos excelentes encartes com riquíssimas informações que vêm juntamente com os CDs da
Revivendo!
Parabéns, Leon Barg!!!
Quero aqui também parabenizar a maravilhosa iniciativa do Músico, Compositor, Arranjador e Produtor Piracicabano Pedro Henrique Macerani, de Piracicaba, com o nome
artístico Pedro Massa, que realizou um excelente Trabalho de Preservação da Obra de Cornélio Pires, em 5 CD's: "Pedro Massa e a Turma de Cornélio Pires" e o Álbum
Quádruplo "A Turma Caipira de Cornélio Pires por Pedro Macerani"!!!
O CD "Pedro Massa e a Turma de Cornélio Pires" foi gravado nos meses de Março e Abril de 2012 nos Estúdios do "Instituto Cultural Cornélio Pires" em Tietê-SP, com a
inesquecível voz de Cornélio Pires (oriunda dos Discos 78 RPM de 1929) e a participação de Fábio Tomazela (Baixo e Voz), Tony Viola (Viola Capipira), Silvano do
Acordeon (Silvana), Ruben (Flauta Doce) e Pedro Massa (Violão, Viola Caipira, Percussão, Voz, Teclados e Efeitos Sonoros)!!!
Com um excelente encarte, riquíssimo em informações, o CD apresenta uma releitura da maravilhosa Obra Poética e Musical do Bom Cornélio e, de acordo com Pedro Massa,
"
Tão grande quanto a alegria é a responsabilidade de também, como o Cornélio, ser o pioneiro no Brasil em resgatar o Trabalho e Obra do 'Bandeirante do Folclore
Paulista' e 'Pai' da Música Sertaneja, o grande Cornélio Pires, e através deste trabalho, trazer a conhecimento das novas gerações o rico e vasto repertório
'Corneliano' de mais de oitenta anos atrás e ainda assim, atual e contemporâneo.
"
E, como se esse maravilhoso CD já não bastasse, Pedro Massa também lançou um maravilhoso Álbum Quádruplo intitulado "A Turma Caipira de Cornélio Pires por Pedro Macerani", o
qual brinda o Apreciador com 97 das Gravações produzidas pelo Cornélio Pires, remasterizadas e apresentadas na ordem cronológica do lançamento, desde Maio de 1929 até
Novembro de 1930!!!
Além dos 4 preciosíssimos CD's, o Álbum Quádruplo também brinda o Apreciador com um excelente encarte que é um verdadeiro "Livro" com diversas fotos e bastante informação sobre a Obra de Cornélio Pires!!!
Além da formação inicial, a Turma de Cornélio Pires, também teve novos integrantes em 1930
como por exemplo a dupla Mandi e Sorocabinha (foto à esquerda), o Bico Doce (como era conhecido
Raul Torres,
até então) e também o Ator Arruda que era o famoso Sebastião Arruda que cerca de dez anos antes
já havia criado no teatro o "personagem clássico caipira" que já passava a ter também a voz
ouvida no disco.
E, ainda no mesmo ano, em Outubro de 1929, a Victor (posteriormente RCA, hoje BMG) percebeu
o "mercado da música rural" também criou sua "Turma Caipira Victor" e, pela primeira vez, a
palavra "Moda de Viola" era escrita também nos selos dos discos da concorrente da Colúmbia:
trata-se do disco Nº. 33236, em cujo lado B foi gravada "Casamento da Onça" de Manoel Rodrigues
Lourenço, que na referida gravação interpretou a música em dupla com Olegário José de Godoy.
Aliás, diga-se de passagem, Lourenço e Olegário chegaram a integrar a Turma
de Cornélio Pires e depois adotaram os nomes de Mandi e Sorocabinha (foto à direita, de autoria da Fotógrafa
Iolanda Huzak,
que possui catalogado um excelente Acervo em termos de Memória Musical Brasileira em seu excelente
Site!). Ambos Piracicabanos,
Manoel Rodrigues Lourenço, o Mandi (25/01/1901 - 12/03/1987), também se dedicou a Atividades
Educacionais e políticas, tendo sido diretor de uma escola e prefeito de Piracicaba na década
de 1960; Olegário José de Godoy, o Sorocabinha (03/01/1895 - 10/07/1995 => viveu 100 anos e
meio!!) também foi Operário e Porteiro de loja na Capital Paulista.
E aqui uma curiosidade: Sorocabinha era Piracicabano (e não Sorocabano). Cinco anos
antes do lançamento dos primeiros discos caipiras, para ser mais exato, no dia 13 de Maio
de 1924, Cornélio apresentou a dupla Niltinho Pintô e Sorocabinha em São Paulo (no
Cine República), fazendo parte da palestra sobre Danças Caipiras que ele então proferia.
Niltinho Pintô, que havia apresentado Olegário, o Sorocabinha, ao Cornélio Pires, formava
antes uma dupla com o pai de Olegário, José Sorocaba. Pois foi no dia em que conheceu Olegário,
que Cornélio sugeriu a ele o nome artístico "Sorocabinha", já que seu pai era famoso com o nome
José Sorocaba!
Mandi e Sorocabinha pouco participaram das gravações dos primeiros discos ("Selo Vermelho") com a Turma de Cornélio Pires; a Dupla na verdade
apresentava-se apenas esporadicamente com a Turma de Cornélio. Mandi alegava os compromissos em Piracicaba-SP onde era Diretor de uma Escola. Seguindo,
no entanto, o exemplo do Mestre Cornélio Pires, a Dupla "Mandi e Sorocabinha" achou que poderia também gravar em proveito próprio. Escreveu para a Victor
propondo o lançamento de Discos de Música Caipira da mesma forma como estava sendo feito na Colúmbia. Com o sucesso da Turma de Cornélio Pires, a Victor
topou e logo estava formada a "Turma Caipira Victor" e a Moda de Viola "Casamento da Onça" estava gravada.
Clique aqui
e ouça o Samba Caipira "Depois Da Coieita" (Sorocabinha) interpretada por Mandi e Sorocabinha (Lourenço e Olegário), em gravação do Disco 78 RPM - 33866 - Lado A - Gravadora RCA Victor -
Gravado em 13/09/1934 - do Acervo de José Ramos Tinhorão - num excelente Arquivo Musical pertencente ao
IMS - Instituto Moreira Salles,
excelente site que se preocupa com a Preservação de Inestimáveis Acervos Brasileiros em termos de Música, Fotografia, Artes Plásticas e Biblioteca, o
qual convido o Apreciador a visitar!
Clique aqui
e ouça a Moda de Viola "Carta de Amor" (Sorocabinha) interpretada por Mandi e Sorocabinha (Lourenço e Olegário), em gravação do Disco 78 RPM - 33866 - Lado B - Gravadora RCA Victor -
Gravado em 13/09/1934 - do Acervo de José Ramos Tinhorão - num excelente Arquivo Musical pertencente ao
IMS - Instituto Moreira Salles,
excelente site que se preocupa com a Preservação de Inestimáveis Acervos Brasileiros em termos de Música, Fotografia, Artes Plásticas e Biblioteca, o
qual convido o Apreciador a visitar!
Clique aqui,
veja e ouça o Sorocabinha participando do inesquecível programa "Som Brasil" que ia ao ar na década de 1980 pela Rede Globo e que na época era
apresentado pelo
Rolando Boldrin.
Nesse vídeo, Sorocabinha interpreta e Embolada "A Mosca Na Moça" (Domínio Público - Recolhida por Mandi e Sorocabinha).
Clique aqui,
veja e ouça o Sorocabinha sendo entrevistado no inesquecível programa "Som Brasil" em 1985, ocasião na qual ele tinha 90 anos de idade. O programa ia ao
ar pela Rede Globo e na época era apresentado pelo Lima Duarte.
Clique aqui,
veja e ouça outra preciosíssima Entrevista com o Sorocabinha!!
Esses preciosíssimos vídeos musicais foram "garimpados" pelo Pesquisador
Fábio Porangaba
e pertencem ao excelente Site
Os Reis Do Cururu,
que foi por ele idealizado e se preocupa com a Preservação desse maravilhoso Desafio Cantado, praticado na região do Médio Tietê no
Estado de São Paulo. O Apreciador não pode deixar de conhecer esse Sítio!
Quero aqui destacar o Livro de Maria Immaculada da Silva: "Sorocabinha - A Raiz da Música Sertaneja" - ISBN: 978-85-366-2263-7 - Anexodesign Studio -
Grupo Editorial Scortecci
- 2011 - A Autora desse livro é Filha do inesquecível Olegário José de Godoi, o Sorocabinha!
E, a convite de seu filho
Antônio Robson,
tive a grande alegria de estar presente na Noite de Autógrafos por ocasião do lançamento desse excelente livro, na
Livraria da Vila,
na Capital Paulista, no dia 29/11/2011!!! Contato com a Autora: pelo telefone (11) 3032-0132
ou pelo e-mail:
[email protected].
Na foto abaixo, Maria Immaculada da Silva e Ricardinho na Noite de Autógrafos na
Livraria da Vila,
no dia 29/11/2011, por ocasião do lançamento do livro "Sorocabinha - A Raiz da Música Sertaneja". Foto de autoria de minha Esposa (Netinha):
Na foto abaixo, da esquerda prá direita, 4 Filhos de Sorocabinha: Terezinha, Olegário, Maria Immaculada e Samuel, na mesma Noite de Autógrafos em
29/11/2011. Terezinha de Jesus Gomes escreveu o "Depoimento de uma Filha", na página 214 do livro "Sorocabinha - A Raiz da Música Sertaneja". Foto de
autoria de minha Esposa (Netinha):
Na foto abaixo, da esquerda prá direita, Maria Immaculada, seu Filho
Antônio Robson
e Ricardinho, na mesma Noite de Autógrafos em 29/11/2011. Foto de autoria de minha Esposa (Netinha):
Na foto abaixo, Ricardinho e Acordeonista Caçulinha, na mesma Noite de Autógrafos em 29/11/2011. Conforme já foi mencionado nessa página, Caçulinha
(conhecidíssimo na Rede Globo) é Filho de Mariano da Silva que integrou a inesquecível Dupla "Mariano e Caçula" que fazia parte da Turma de Cornélio
Pires. Foto de autoria de minha Esposa (Netinha):
Na foto abaixo, em segundo plano, da esquerda prá direita, Olegário, Caçulinha, Samuel e
Antônio Robson;
e, em primeiro plano, da esquerda prá direita, Maria Immaculada da Silva e Terezinha de Jesus Gomes, na mesma Noite de Autógrafos em 29/11/2011.
Foto de autoria de minha Esposa (Netinha):
Na foto abaixo, da esquerda prá direita,
Antônio Robson,
Caçulinha e minha Esposa (Netinha), na mesma Noite de Autógrafos em 29/11/2011:
E, na foto abaixo, Ricardinho e a Viola de 12 Cordas de Sorocabinha, além de Discos e Documentos Diversos, expostos na
Livraria da Vila,
no dia 29/11/2011, por ocasião do lançamento do livro "Sorocabinha - A Raiz da Música Sertaneja". Foto de autoria de minha Esposa (Netinha):
Clique aqui
e veja o artigo publicado pelo Dr. Israel Lopes, Advogado e Pesquisador da Música Regional, na Página 9 da Edição de Janeiro de 2012 do
Jornal Armazém da Cultura,
falando sobre o lançamento do Livro "Sorocabinha - Um dos Pioneiros da Moda de Viola no Brasil".
E abaixo, mais duas preciosíssimas fotos históricas de Sorocabinha:
Foto de autoria de Sérgio Berezovsky, a qual se encontra na página 6 do Fascículo "Música Sertaneja" (Especial) da Coleção
"Nova História da Música Popular Brasileira" - Editora Abril - Abril Cultural - 1982:
Foto de autoria da Fotógrafa
Iolanda Huzak,
que possui catalogado um excelente Acervo em termos de Memória Musical Brasileira em seu excelente
Site
(por ocasião do inesquecível Programa "Som Brasil", quando ia ao ar na Rede Globo, apresentado pelo
Rolando Boldrin,
entre 1981 e 1984),
e que também se encontra na página 208 do excelente livro "Sorocabinha - A Raiz da Música Sertaneja" de Maria Immaculada da Silva:
Clique aqui
e conheça o site
Sorocabinha - A Raiz da Música Sertaneja,
com sua biografia, Fotos Históricas, Discografia e preciosíssimos Documentos desse inesquecível Ícone da Música Caipira Raiz!!! Esse excelente Site foi
elaborado e desenvolvido por
Antônio Robson,
Neto de Sorocabinha (Filho de Maria Immaculada da Silva) e Designer Gráfico da
Anexodesign Studio!!!
Naturalmente, Cornélio Pires se aborreceu com a "autonomia" de Mandi e Sorocabinha mas,
não há dúvida de que o Tieteense é que possui o mérito de ter iniciado a implantação da
legítima Música Caipira no cenário artístico urbano, através dos primeiros discos. De fato,
conforme já foi mencionado, a primeira Moda de Viola gravada em disco foi "Jorginho do Sertão"
(recolhida do
Folclore por Cornélio Pires) gravada por Mariano e Caçula no "Selo Vermelho" em Outubro de 1929;
"Casamento da Onça" foi gravada por Mandi e Sorocabinha em Dezembro do mesmo ano.
E a "caipirização definitiva" veio logo depois com
Raul Torres,
o "Bico Doce" que passou a
integrar posteriormente a Turma de Cornélio Pires, conforme dito logo acima, com gravações na
Parlophon (depois Odeon e hoje EMI), na Victor e também na própria Colúmbia e na Chantecler.
Dominado o "medo do Byington Jr" da Colúmbia e realizado o "Sonho" de Cornélio Pires, o qual
só foi possível graças à sua Coragem e Perseverança, a Música Caipira, que já passava a ser
chamada comercialmente de "Música Sertaneja", passava a despertar cada vez mais o interesse das
gravadoras!!
Valeu, "Seu" Tibúrcio!!! O Bandeirante da Cultura Caipira!!!
Abaixo: foto histórica de 1929 com a Turma de Cornélio Pires: da esquerda para a direita,
em pé: Ferrinho (empunhando a "puíta"), Sebastião Ortiz de Camargo (Sebastiãozinho), Caçula,
Arlindo Santana; sentados: Mariano, Cornélio Pires e Zico Dias.
Quero aqui destacar também a criatividade de
Robson Campagnaro,
também conhecido como Robinho Viola, que formou, por algum tempo, com seu companheiro Wagner Teles, a jovem e excelente Dupla Caipira
Robson e Wagner
que, juntamente com o "Cumpadre"
Maikel Monteiro,
realizou um excelente trabalho de Resgate da Memória Musical Caipira Raiz em Curitiba-PR! Conforme comento em diversas páginas desse site, o "Cumpadre"
Maikel Monteiro
produz e apresenta o programa
Brasil Caboclo
que vai ao ar aos Domingos às 07:00 da manhã pela
Rádio Paraná Educativa (e-Paraná)
de Curitiba-PR (AM 630 kHz), e conhece a fundo a Trajetória de diversos excelentes Intérpretes da Música Caipira Raiz!!!
Merece ser lembrado também que seu Amigo, o "Cumpadre" José Francisco da Silva (foto à direita), também apresentou, durante mais de 16 anos, junto com o "Cumpadre" Maikel Monteiro, esse excelente Programa de Rádio que é o "Brasil Caboclo"... O "Cumpadre" José Francisco da Silva, no entanto, partiu "bem antes do combinado" (como diz
Rolando Boldrin)
para o Oriente Eterno, na madrugada do dia 06/12/2018, quando se recuperava de uma repentina cirurgia no intestino grosso, à qual ele teve que ser submetido...
Além do "Brasil Caboclo", o "Cumpadre"
Maikel Monteiro
também produziu e apresentou, durante alguns meses, o Programa "Perfil – A Trajetória da Música Caipira e Seus Personagens", na mesma
Rádio Paraná Educativa (e-Paraná)!
De acordo com
Robson Campagnaro,
o excelente trabalho de Resgate e Preservação da Memória Musical Caipira Raiz desenvolvido pelo "Cumpadre"
Maikel Monteiro
é algo que, de um certo modo, nos faz lembrar o maravilhoso Trabalho Pioneiro de Cornélio Pires!!! E foi pensando nisso que
Robson Campagnaro
adaptou a foto com a "Turma Caipira de
Maikel Monteiro":
Também de acordo com Paulo Roberto Moura Castro, em 1933, quando Cornélio Pires (conhecido também pelo apelido de Tibúrcio), já beirava os 49 anos, com a afamada superstição relativa ao numero 13, um amigo o encontrou sentado num banco na Praça do Patriarca muito pensativo.
Começaram a entabular uma conversa e, em pouco tempo, estava formada a tradicional roda em volta dos dois. Alguém fez referências ao acaso de certas pessoas serem perseguidas pelo numero 13.
Cornélio com aquele jeitão, achando sempre um "a propósito" para todos os “causos”, chamou a atenção da roda:
– Pois saibam vocês que tenho grande predileção pelo número 13, e sou por ele fartamente retribuído - e começou sua descritiva:
Cornélio Pires – 13 letras.
Vi a luz em Julho – 13 letras.
Nasci dia treze – 13 letras.
Século passado – 13 letras.
Eu sou paulista – 13 letras.
Sou brasileiro – 13 letras.
Nasci no Brasil – 13 letras.
Sul de São Paulo – 13 letras.
Cidade de Tietê – 13 letras. D.Anna Joaquina (minha mãe) – 13 letras.
Raimundo Pires (meu pai) – 13 letras.
Poeta e caipira – 13 letras.
Poeta e "conteur" 13 letras.
Conferencista – 13 letras.
Escrevo livros – 13 letras.
Sou muito pobre – 13 letras.
Sou muito feliz – 13 letras.
Eu sou solteiro – 13 letras.
Amei treze "emes" (o M é a Décima Terceira letra do alfabeto) – 13 letras.
E o escritor regionalista concluiu:
- Não cito os nomes das minhas 13 namoradas, porque, vocês compreendem... E com esta, até logo.
– Para aonde vais?
– Vou tomar Bonde! E note uma coisa: que sua pergunta e minha resposta, ambas tem 13 letras!
Uma observação minha: conforme já mencionei acima, conheci Tietê-SP e o Museu
Cornélio Pires também no dia 13/03/2003 - só notei que o dia de minha viagem foi o treze
depois de começar a digitar o texto que acrescentei ao site!! Mera coincidência? Quem sabe?
Um pouquinho do trabalho de Cornélio Pires como Poeta:
De sua primeira coletânea de poesias (Musa Caipira) o soneto “Ideal caboclo”:
Ai, seu moço, eu só quiria
P’ra minha filicidade
Um bão fandango por dia,
E um pala de qualidade.
Porva espingarda e cutia
Um facão fala verdade,
E u’a viola de harmonia
P’ra chorá minha sodade.
Um rancho na bêra d’água
Vara de anzó, pôca mángua,
Pinga boa e bão café...
Fumo forte de sobejo,
P’ra compretá meu desejo,
Cavalo bão – e muié...
Também de sua primeira coletânea de poesias (Musa Caipira) o soneto “A Origem do Homem”:
- O senhor por acaso não descende
dos bugres que moravam por aqui?
- Hom'eu num sei dizê, vancê compreende
que essa gente inté hoje nunca vi.
Mais porém o Bernado dis-que intende
que os moradô antigo do Brasi
gerava de macaco!... Inté me offende
vê um véio cumo elle, ansim, minti.
D'otra feita um cabocro - ai um caiçára -
dis-que nasci um de dois e inté de treis,
quano estralava um gommo de taquara!
Nois num temo parente purtugueis,
nem mico, nem cuaty, nem capivára...
Semo fio de Deus cumo vanceis!
Um "causo":
Ao contrário de Monteiro Lobato
(foto à direita) que em seus trabalhos literários, de um certo modo, considerava o Caipira
como um "Jeca" (Jeca Tatu à direita, abaixo do retrato de Monteiro Lobato), ou seja,
depreciava o valor e a inteligência do Homem do Campo, Cornélio Pires defendia o Homem
Interiorano que, por trás de sua simplicidade, escondia sua grande esperteza, para
mostrá-la somente quando necessário, conforme é contado nessa anedota, registrada em
livro, que conta que "...um granfino, a passeio pelo interior, alugou um cavalo e saiu
percorrendo os arredores da cidade, indo parar na casa do caipira. Bem acolhido, entrou e
começou a examinar a sala. Ao notar que na parede havia numerosas fotografias, perguntou
ao dono da casa:
-De quem é esse retrato?
-É retrato de mea mãe...
-E aquele outro?
-Aquele é de meu pai...
Finalmente, vendo a fotografia de um burro bem escanelado com sete palmos de altura, arreio prateado, rédea bambeada, peitoral enfeitado, perguntou:
- Esse também é da família?
- Nhor, não. Mercê tá enganado. Esse num é retrato.
- Quem é então?
- É espêio..."
Nos "últimos momentos", "mais um causo":
Ainda, de acordo com Paulo Roberto Moura Castro em seu excelente site, até mesmo doente Cornélio ainda mostrava sua “veia de humorista”. Esta aconteceu no hospital onde estava internado, quando entrou a enfermeira com vários comprimidos e uma injeção. Cornélio tomou os comprimidos enquanto a enfermeira preparava a seringa. Virou-se a enfermeira e perguntou.
- Sr. Cornélio, aonde quer que aplique esta injeção?
Cornélio olhou para os braços já todos picados, olhou para cima, para os lados e sem cerimônia disse:
- Pode aplicar ali na parede mesmo!
Algum tempo depois, em 17 de Fevereiro de 1958, às 2h:30min, um câncer de laringe punha fim à tão emocionante Vida de Cornélio Pires no Hospital das Clínicas de São Paulo.
Seus restos mortais foram trasladados no mesmo dia para Tietê, sua Cidade Natal e foram
sepultados no cemitério municipal. Seu túmulo é o de número 1078.
Faleceu solteiro convicto e em plena lucidez; tinha 74 anos incompletos. Conforme seu pedido, foi enterrado de pijamas e descalço...
Clique aqui e veja o Monumento (Herma) dedicado ao Cornélio Pires em Tietê-SP.
Quero aqui destacar o Livro do Dr. Israel Lopes: "Turma Caipira de Cornélio Pires – Os Pioneiros da 'Moda de Viola' em 1929 - Folclore Nacional - 70 Anos da
Música Sertaneja" - AN Gráfica A Notícia - 1999. De acordo com Abel Cardoso Junior (In Memoriam), Pesquisador da MPB e da Academia Sorocabana de Letras
(e que também escreveu informações importantes em diversos encartes dos excelentes CD's da Gravadora
Revivendo),
"Esse seu Trabalho sobre a Turma Caipira de Cornélio Pires é da maior importância e realmente precisava ser detalhado. Quem diria que alguém do Extremo
Sul fosse se preocupar com Caipiras de São Paulo?..."
O livro pode ser adquirido diretamente do Autor pelo telefone (55) 3431-3260 ou pelo e-mail:
[email protected].
Essa "viagem de trem" continua, pois outros também seguiram o caminho que Cornélio Pires
começou a traçar.
Clique aqui
e veja um pouquinho sobre seu sobrinho
Ariowaldo Pires, o Capitão Furtado,
na "próxima estação", também em Tietê-SP.
As informações contidas no texto dessa página são originárias principalmente do site de
Paulo Roberto Moura Castro,
já mencionado, bem como do Livro "Música Caipira - Da Roça ao
Rodeio" de Rosa Nepomuceno, além do Encarte do CD "Som da Terra - Cornélio Pires". Ver mais
detalhes e links na página
Para saber mais...
onde constam as
Referências Bibliográficas
e as
Referências Discográficas
sem as quais a elaboração deste site teria sido impossível.