“...Era seu filme o nosso sonho
Mazzaropi
Era uma coisa brasileira
Dando Ibope...”.
(Jean e Paulo Garfunkel em sua belíssima música "Mazzaropi")
"...mas eu tinha um astro especial... arrepio quando falo nisso. Um astro que de repente
falam dele em música... chama-se Mazzaropi. Aquele cara fez a minha cabeça, me ensinou muitos
caminhos. Eu acho que ensinou muitos no Brasil...".
(
Xavantinho
- em depoimento no CD JCB-0709-035, lançado pelo SESC-São Paulo - ver logo abaixo)
"Não só no Brasil, o contraste entre o "progresso" da cidade e o "atraso" rural sempre foi
assunto para boas risadas na Literatura, Teatro, Rádio, Televisão, Música e Cinema. Falando-se
em Cinema, pode-se dizer que filme de Humor Caipira tem um grande sinônimo: Mazzaropi, talvez
o melhor, certamente o mais famoso comediante brasileiro no estilo. Não só comediante, mas
também Produtor Cinematográfico, Diretor e ainda Cantor - sim, lembrar Mazzaropi é lembrar
também de Música Caipira bem humorada...
".
(Ayrton Mugnaini Jr. - encarte do CD Mazzaropi da Série Luar do Sertão - ver abaixo)
"O melhor dos filmes de Mazzaropi é ele mesmo".
(Paulo Emílio Salles Gomes - Escritor e Professor)
“O segredo do meu sucesso é falar a Língua do meu Povo”.
(Mazzaropi, quando lhe perguntaram sobre qual seria a "razão de sua fama"...)
Amácio Mazzaropi nasceu na Capital Paulista em 09/04/1912 e faleceu também na Paulicéia
Desvairada em 13/06/1981, no Hospital Albert Einstein.
Esse excelente Artista, Brasileiríssimo, de origem humilde, não poderia jamais estar ausente
desse "Trem": paulistano, foi um autêntico "Caipira Nascido na Capital"! Saudado
popularmente como sendo "O Carlitos Brasileiro" (lembrando o célebre e inesquecível Charlie
Chaplin), Amácio começou sua brilhante carreira no circo, tendo ido para o Rádio, para a TV, e
para o Cinema, onde estreou como Ator, até que acabou se tornando o seu próprio Produtor,
Diretor e Distribuidor!! Além de excelente intérprete da Música Caipira, a excelente e
emocionante representação de seus personagens "Bem Brasileiros" consagrou-o também como um
dos maiores sucessos de bilheteria, embora tivesse sido "mau visto" pela crítica...
Apesar da enorme aclamação pelo público, a "crítica" e a "elite intelectual", por
assim dizer, jamais reconheceram o talento desse que foi um dos maiores representantes da
Produção Cinematográfica Brasileira. No entanto, para nossa Felicidade, e para a preservação da
nossa Memória Cultural, o trabalho de Amácio Mazzaropi vem sendo revisto pelos críticos de hoje
e as Universidades, de um modo geral, também estão começando a estudar sua produção, apesar da
tão pouca citação de seu nome nos diversos livros sobre Cultura Brasileira.
Pouco estudou e nem mesmo concluiu o Curso Ginasial (atual Primeiro Grau). Em sua adolescência,
Amácio era fã de Genésio e Sebastião de Arruda (esse último, o famoso Ator Arruda que havia
criado no teatro o "Personagem Clássico Caipira" que "passou a ter também sua voz ouvida
no disco" em 1929 quando das primeiras gravações fonográficas de Genuínos Caipiras da Turma de
Cornélio Pires),
da qual Arruda também fez parte.
Assistindo a um espetáculo circense, foi que Amácio acabou, "sem saber como", parando nos
bastidores e ali passou a trabalhar como pintor de letreiros. Isso, com apenas 15 anos de
idade! Não demorou para trocar os pincéis por um "personagem vestido de caipira"...
E, com 16 anos, Amácio fugiu de casa para ser assistente do faquir Ferri. Foi para o Interior e
passou a apresentar monólogos cômico-dramáticos. Sucesso imediato, no entanto, a renda era
baixíssima... Salário de míseros 25 Mil-Réis que mal davam para as despesas diárias...
Em 1940, Mazzaropi montou o Circo Teatro Mazzaropi e criou a Companhia Teatro de Emergência.
A partir de então, foi que a situação "começou a mudar", e ele passou a ser conhecido, além do
fato de todos os circos começarem a solicitar sua presença!
E, ao final da década de 1940, Amácio Mazzaropi foi para a Rádio Tupi (dos Diários e Emissoras
Associados) e estreou seu programa "Rancho Alegre". E, como se sabe, foi no ano de 1950 que a
Televisão foi inaugurada no Brasil e foi para lá que Mazzaropi levou seu programa, o qual
alcançou estrondoso sucesso! Lembrar que a TV Tupi - Canal 3 - de São Paulo-SP foi a primeira
emissora brasileira de Televisão! E, de 1959 a 1962, Mazzaropi apresentou também um programa
na extinta TV Excelsior - Canal 9 - de São Paulo-SP.
Antes, porém, Abílio Pereira de Almeida, que na época era Produtor e Diretor da inesquecível
companhia cinematográfica Vera Cruz (o "sonho holliwoodiano brasileiro"), procurava por um
"tipo diferente e curioso" para uma comédia... Não deu outra: quando viu Mazzaropi
na TV, ficou deslumbrado com sua atuação e não teve dúvida: convidou-o para fazer um teste e,
tendo Mazzaropi sido aprovado, Abílio contratou-o para atuar no filme "Sai Da Frente", por ele
dirigido, em 1952.
Nascia então o inesquecível "Personagem Tão Característico" de Mazzaropi: o
"Jeca", aquele "tipo Caipira, de andar desengonçado, fala mansa, usando roupas
curtas e sujas, calças remendadas, camisa xadrez"... Mazzaropi participou de um total de
8 filmes como Ator pela Vera Cruz e, em 1958, com o sucesso popular alcançado, decidiu se
dedicar mais ainda ao Cinema, fundando a PAM Filmes - Produções Amacio Mazzaropi!
Mazzaropi passou então a produzir e dirigir seus próprios filmes. Sua primeira produção foi
"Chofer De Praça", na qual empregou todas as suas economias. Filme pronto, no entanto, faltava
dinhero para fazer as cópias... Amácio seguiu então com seu carro pelo Interior, fazendo shows,
visando arrecadar a quantia necessária, para poder estrear o filme, o qual fez bastante sucesso!
O "pano de fundo" de quase todos os filmes produzidos por Mazzaropi foi sempre uma fazenda:
de início uma "fazenda emprestada", até que mais tarde adquiriu a sua própria "Fazenda Da
Santa", onde montou seus estúdios e passou a viver a fase mais fértil de sua carreira,
tendo produzido seus melhores filmes tais como "Tristeza Do Jeca" (em 1961) e "Meu Japão
Brasileiro (em 1964). Na foto acima e à direita, cena de "O Lamparina", produzido em 1964, satirizando o famosíssimo
cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião.
Foi no ano de 1961 que Mazzaropi produziu um dos maiores e mais inesquecíveis sucessos do
Cinema Brasileiro que foi "Tristeza do jeca", inspirado na música homônima de
Angelino de Oliveira.
Sob a direção musical do Maestro Hector Lana Fietta, o filme também contou com a participação de
Agnaldo Rayol que cantou acompanhado por solos de Acordeom a cargo de
Mário Zan.
E, conforme já foi mencionado nesse site, ao utilizar a belíssima "Tristezas do Jeca" (
Angelino de Oliveira)
no filme homônimo, Mazzaropi teve uma pequena desavença com o compositor no que se referiu aos
Direitos Autorais, desavença essa que foi rapidamente resolvida num encontro entre Mazzaropi e
Angelino.
De acordo com Rosa Nepomuceno, nas páginas 136, 137 e 138 de seu excelente livro "Música
Caipira - Da Roça Ao Rodeio", "...os amigos de
Angelino,
revoltados, organizaram uma caravana a São Paulo-SP para 'arrancar' do artista o
pagamento dos Direitos Autorais. Debaixo dos 'larga prá lá' do pacato
Angelino,
desceram a serra Gastão Dal Farra, Zezinho, Zorico, Trajano Puppo e Octacílio Paganini. Sem
regatear, Mazzaropi acertou as contas e o pessoal voltou com a bolada. Segundo lendas da cidade
de Botucatu-SP, o dinheiro nem esquentou no bolso do compositor: boa parte dele foi devidamente
torrado com a turma de boêmios, em noites de serestas memoráveis..."
Foram 28 anos de carreira, nos quais Mazzaropi atuou em 32 filmes, tendo participado em 8 deles
pela Vera Cruz, conforme já foi dito, e mais 24 produzidos por ele próprio. Destaque para
"Sai da Frente", "A Carrocinha", "O Gato De Madame", no período da Vera Cruz. E, sob sua própria
produção: "Jeca Tatu", "As Aventuras de Pedro Malazartes", "Zé do Periquito", "O Vendedor de
Lingüiça", "O Lamparina", "Meu Japão Brasileiro", "Um Caipira Em Bariloche", "Portugal Minha
Saudade", "O Jeca E A Freira" (cujo tema "Jeca Magoado" (Elpídio dos Santos) o Apreciador ouve
um trecho, logo após acessar essa página), "Jecão, Um Fofoqueiro No Céu", "Jeca E Seu Filho Preto" (uma crítica ao preconceito
racial), "A Banda Das Velhas Virgens" e "O Jeca E A Égua Milagrosa" (seu último filme - foto
colorida acima e à direita). E, para nossa Felicidade, esses filmes estão disponíveis
comercialmente em DVD!
Mazzaropi lançava praticamente um filme por ano, sempre no dia 25 de Janeiro, data na qual sua
São Paulo natal aniversariava. E o lançamento era sempre no Cine Art-Palácio, pois o dono desse
cinema foi a pessoa que mais lhe deu apoio em seu início da carreira!
Como intérprete, Mazzaropi gravou seu primeiro 78 RPM no ano de 1956 pela RGE (hoje Som Livre),
tendo no Lado-A o fox "Na Piscina De Madame" (Elpídio dos Santos - Conde) e no Lado-B, com a
participação de Lolita Rodrigues, a marcha "Nhá Carola" (Hudson Gaia "Petit").
A música na verdade sempre foi essencial aos seus filmes, os quais contaram com a direção
musical de Radamés Gnatalli e Hector Lagna Fietta, além da participação de renomados
intérpretes tais como Tony e Celly Campello (iniciantes na época), Lana Bittencourt, Miltinho,
Hebe Camargo, Elza Soares, Ângela Maria e Agnaldo Rayol, apenas para citar alguns. Composições
de Tom Jobim, Dolores Duran, Zequinha de Abreu, Jair Amorim,
Catulo da Paixão Cearense e
Mário Zan,
também foram bastante empregadas nos filmes de Mazzaropi.
Em suas produções cinematográficas, Mazzaropi sempre empregou "da Música Caipira ao Rock". A
maioria das músicas foi composta por
Elpídio dos Santos,
paulista de São Luiz do Paraitinga, que era seu compositor preferido e era sempre
convidado para criar as mesmas, as quais eram específicas para cada filme e, em geral,
interpretadas pelo próprio Mazzaropi. Tais composições musicais eram criadas para ressaltar
cenas importantes e muitas vezes tinham a difícil incumbência de retratar o próprio âmago da
história! Elpídio e Mazzaropi se conheceram quando estavam sendo feitas filmagens em São Luiz
do Paraitinga-SP e a afinidade foi imediata, de tal modo que o compositor foi escolhido pelo
"Carlitos Brasileiro" para compor a quase totalidade das músicas de seus filmes a partir de
então.
Tendo tido origem humilde, Mazzaropi conheceu a fortuna! Também produzia leite, tendo sido um
dos maiores fornecedores para a empresa "Leite Paulista". Construiu também novos estúdios no
início da década de 1970, além de um hotel em Taubaté-SP. Além de ter sido um verdadeiro
artista nato, Mazzaropi também foi um Empresário com bastante tino comercial, além de ter sido
também "desconfiado e solitário"... Jamais se casou, no entanto, chegou a ter um filho
adotivo, o Péricles, que o ajudou na produção de seus filmes.
Um câncer na medula tirou a vida de Mazzaropi no dia 13/06/1981, no Hospital Albert Einstein em
São Paulo-SP, quando ele contava 69 anos de idade, e estava iniciando a produção de seu 33º.
filme "Jeca E A Maria Tromba Homem".
Mazzaropi deixou como herança a produtora, funcionando perfeitamente, bem
como os estúdios e equipamentos, herança à qual Mazzaropi também deixou, em parte, para seus
antigos funcionários. A empresa inicialmente foi tocada adiante por seus herdeiros, no entanto,
o patrimônio por ele construído ao longo de tantos anos, foi lamentavelmente destruído pelos
herdeiros após sua morte, tendo todos os seus bens ido à leilão, inclusive os filmes...
O Hotel-Fazenda onde está seu estúdio, no entanto, para nossa felicidade e da Memória
Cinematográfica e Musical Brasileira, continua existindo, agora, com o nome de Hotel
Fazenda Mazzaropi, o qual mantém o Museu Mazzaropi com acervo de mais de 6.000 peças. E seus
filmes, conforme já mencionado, estão disponíveis em DVD, para nossa grande alegria!
Mazzaropi também foi homenageado pelos compositores Jean e Paulo Garfunkel que compuseram a
toada "Mazzaropi" gravada por
Pena Branca e Xavantinho
e que é a 12ª. faixa do LP "Cantadô de Mundo Afora", lançado
pela Warner/Continental em 1990. Salvo algumas faixas em algumas coletâneas, não consta
nenhuma remasterização em CD desse excelente LP, nem tão pouco a música que homenageia o
"Carlitos Brasileiro".
A inesquecível Dupla do Triângulo Mineiro também nos presenteia com outra gravação de
"Mazzaropi" (Jean Garfunkel - Paulo Garfunkel) que é a 9ª. faixa do CD
JCB-0709-035
produzido por João Carlos Botezelli - Pelão, lançado pelo
SESC-São Paulo
que nos mostra alguns depoimentos de
Pena Branca e Xavantinho,
além de interpretações nas quais eles se acompanham com a Viola e o Violão. Esse CD faz parte
da série "A Música Brasileira Deste Século Por Seus Autores E Intérpretes". O
conteúdo desse excelente Documento Musical é a gravação do programa Ensaio de 21/02/1991 da
TV Cultura
de São Paulo, sob a direção de Fernando Faro.
Quero aqui destacar também o CD "Mazzaropi" da Série Luar do Sertão (foto da capa à direita),
lançado em Abril de 2000, com encarte comentado por Ayrton Mugnaini Jr., que é uma coletânea
bastante representativa da obra do "Charlie Chaplin Brasileiro", bem como do compositor
Elpídio dos Santos.
Destaque para "Ingratidão" (Elpídio dos Santos), "Cai Sereno (Na Rama Da Mandioquinha)"
(Elpídio dos Santos - Conde), "Jeca Magoado" (Elpídio dos Santos), "O Lingüiceiro" (Elpídio
dos Santos), "O Azar É Festa" (Ado Benatti - Zé do Rancho), "Fogo No Rancho" (Elpídio dos
Santos - Anacleto Rosas Jr.) e "Sopro do Vento" (Elpídio dos Santos), todas temas de diversos
filmes lançados entre 1954 e 1967.
Quero destacar também o Livro de Marcela Matos: "Sai da Frente - A Vida e a Obra de Mazzaropi" - ISBN: 978-85-99070-90-1 -
Desiderata/Editora Nova Fronteira -
Ediouro
- 2010 - Rua Nova Jerusalém, 345 - Bonsucesso - 21042-235 - Rio de Janeiro-RJ - F.: (21) 3882-8200 - Fax: (21) 3882-8212 / (21) 3882-8213 -
Esse livro conta a trajetória do nosso tão querido Mazzaropi, que foi, sem dúvida, um dos Artistas mais bem sucedidos da História do Cinema Brasileiro,
além de conter o resumo de todos os Filmes por ele produzidos e diversas fotos de inestimável Valor Histórico!
Clique aqui
e conheça o excelente site do
Museu Mazzaropi
com biografia, trechos de filmes e canções por ele interpretadas, além de uma
entrevista
que ele concedeu ao Armando Salem da revista Veja em 28/01/1970. O site também nos mostra a
ficha técnica de seus 32 filmes, além do
Hotel-Fazenda Mazzaropi,
em Taubaté-SP.
Clique aqui
e assista a uma cena de "Jecão... Um Fofoqueiro no Céu", um dos últimos filmes produzidos
por Mazzaropi, no ano de 1977, num arquivo pertencente ao site do
Museu Mazzaropi.
Obs.: As informações contidas no texto dessa página são originárias dos livros "Música
Caipira - Da Roça Ao Rodeio" de Rosa Nepomuceno e "Enciclopédia Das Músicas Sertanejas" de
Ayrton Mugnaini Jr., além do encarte do CD "Mazzaropi" da Série Luar do Sertão, lançado em
Abril de 2000, comentado por Ayrton Mugnaini Jr., e também dos sites do
Museu Mazzaropi,
Dicionário Cravo Albin de Música Popular Brasileira,
Companhia Cinematográfica Vera Cruz e
SESC - São Paulo (CD de Pena Branca e Xavantinho
JCB-0709-035
produzido por João Carlos Botezelli - Pelão).
Ver também mais detalhes e links na página
Para saber mais...
onde constam as
Referências Bibliográficas
sem as quais a elaboração deste site teria sido impossível.
Essa viagem pela Música Caipira continua:
Clique aqui
e pegue esse trem, que ele agora irá para a Itália, em Roncade (Vêneto), passando também por Santa Adélia-SP e pela Capital Paulista:
conheça um pouquinho desse inesquecível Acordeonista e Compositor, Italiano de nascimento, porém Musicalmente Bem Brasileiro, já que ele veio para
o Brasil com apenas 4 anos de idade e, ainda criança, já animava os bailes e era conhecido como o "Moleque da Sanfona"! Conheça um pouquinho desse
excelente Músico que faz parte da História da Dança da Quadrilha Caipira e também da Música Caipira Raiz: conheça um pouquinho da Trajetória Musical de
Mário Zan.